PATRIMÓNIO E CURIOSIDADES
PATRIMÓNIO
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IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA
Segundo documento fidedigno, a Ermida de S. João Baptista, posteriormente
a Igreja Paroquial de Pedrógão, foi construída à custa do povo em 1721.
Outras fontes, porém, dão-na como já existente ao tempo da dominação filipina, tendo sido aumentada e enriquecida, graças à generosidade de um rico e ignorado "freire" da Ordem Militar de S. João Baptista de Jerusalém, que se supõe ter sido também o fundador da povoação de "A-do-Freire" .
O baptistério e a torre, com o relógio (Este relógio já não existe. O actual foi colocado em 1960), datam de 1794.
Por ocasião da transferência da sede da paróquia para Pedrógão em 1876, tornou-se necessário proceder a importantes obras de ampliação e restauração do edifício, tendo a Junta de Paróquia nomeado uma comissão para o efeito. Esta era constituída por: P. José Augusto Rosa de Carvalho, António José Pereira, Joaquim Gonçalves Mourão, Joaquim Rosa de Carvalho a António Joaquim da Silva Geada.
Alguns anos depois foi a igreja alteada em todo o seu comprimento, construída a frontaria, encimada por uma janela de estilo barroco, e dotada de dois sinos grandes, pois que uma sineta pequena já existia desde há muito.
Em 1903 foi aumentada a torre, colocado um pára-raios e adquirido mais um sino.
A capela-mor é digna de maior atenção. Em consequência de obras aqui levadas a efeito, um dos painéis de azulejo foi mutilado para se abrir uma janela; também a talha dourada do altar-mor sofreu modificações que a empobreceram.
As paredes laterais estão revestidas de belíssimos azulejos oitocentistas, ilustrando, em quatro cenas, a vida do Santo Patrono: nascimento, baptismo de Cristo no Jordão, degolação a apresentação da cabeça de S. João Baptista a Salomé.
O altar-mor é em talha dourada, possivelmente do séc. XVII.
A capela-mor é separada do corpo da igreja por um arco de volta inteira, em pedra, decorado com motivos florais polícromos. De um e outro lados do arco estão dois altares menores, também em talha, antigos, e dais altares mais recentes junto às paredes laterais.
A meio da igreja, pendentes do tecto, há um lustre antigo de cristal.
O recheio, embora curioso, não merece referencias especiais, destacando-se apenas as imagens de Santo António e S. Sebastião, do séc. XVIII, e as dos padroeiros da freguesia - Nossa Senhora Mãe dos Homens a S. João Baptista - que são esculturas modelares da mesma época. Deste último santo, não se conhece melhor imagem no Patriarcado.
Anotamos aqui, a título de curiosidade, que a imagem do "Senhor Morto" foi primitivamente um "Senhor Preso à Coluna", no qual se fizeram as modificações necessárias.
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QUINTA DE SANTO ANTÓNIO
A Quinta de Santo António, situada num extremo do lugar, era no séc. XVI uma vasta propriedade onde o fidalgo P. Jorge de Sousa de Alvim tinha o seu solar.
Actualmente a sua extensão é muito menor, abrangendo o pomar, a "coutada" murada e pouco mais.
A entrada é por um largo portão de ferro, por cima do qual esteve, até à morte do último descendente, o brasão da família, hoje no Museu de Torres Novas.
Passado o portão, encontramo-nos num largo páteo interior, para onde dão a casa de habitação, a capela, os lagares de vinho e azeite, celeiro, cavalariça e outras dependências. Neste páteo se receberam até ao século XX as rendas e foros das propriedades desta família, em quantidade tal, que os carros e carroças formavam uma fila de várias centenas de metros, na data do pagamento.
A casa de habitação é grande e sólida, mas sem preocupações de estilo. O interior é muito simples, sendo apenas de assinalar a sala de jantar que conserva, de um modo geral, a mesma decoração e recheio do tempo dos fidalgos.
Merece uma visita a capela que, apesar de muito mal conservada, ainda permite avaliar a riqueza e bom gosto da nobreza rural de outros tempos.
É de arquitectura simples, com alguns elementos românicos, como a abóbada da capela-mor e a rosácea na parede do fundo. Tem uma só nave que a separada da capela-mor por um arco encimado por um brasão.
A capela-mor tem uma cúpula decorada com frescos policromos e rematada por uma rosácea.
O altar, também pintado a fresco, mostra, em lugar de destaque, a imagem de Santo António. patrono da Quinta, que data da instituição da capela.
Além desta, existem ainda as imagens de S. Domingos (séc. XV), N. S. das Necessidades (séc. XVII) e um Senhor dos Aflitos. De todas, a mais antiga e, por isso, a mais valiosa é a de S. Domingos. É de pedra e veio da Ermida de S. Domingos, situada na Serra, junto ao Alqueidão, da qual já só existiam ruínas nos meados do séc. XVIII. A sua presença nesta capela explica-se pelo facto da dita ermida ser propriedade dos fidalgos do Pedrógão.
Em frente ao altar está sepultado, em campa rasa, o fundador; a lápide tem a seguinte inscrição:
"SEPULTURA/ DO SENHOR/ IORGE DE SOU /ZA DE ALVIM/ FIDALGO DA/ CAZA REAL/ FUNDADOR DESTA CAPEL/LA QUE FOI FEI/TA NO ANNO/ DE 1588 E RE/ NOVADA NO/ DE 1818"
À saída da capela, junto ao portão do pomar, está o sino num pequeno campanário. Na escadaria de acesso ao pomar, do lado esquerdo, está a casa do forno, grande e de pedra.
0 pomar é muito viçoso, abundante de águas e árvores de fruto. Junto ao ribeiro que o atravessa, existia, há anos, um local muito aprazível, abrigada por uma nogueira centenária, a Fonte de Santo António com um e a imagem do Santo num nicho, e com bancos de pedra em toda a volta. Aí era costume efectuar reuniões de familiares a amigos dos donos da Quinta. Hoje está tudo em ruinas.
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CRUZEIROS
Existia um cruzeiro diante da Igreja Matriz de Pedrógão. Devido ao aumento de trânsito foi, porém, removido para a margem da estrada camarária, junto ao cemitério, até que a junta de Freguesia lhe deu melhor lugar, colocando-o, depois de restaurado, à entrada do cemitério, do lado de dentro, a fim de, diante dele, serem encomendadas as almas dos fiéis.
Há também outro cruzeiro na junção da antiga estrada camarária com a nova, conhecido pelo nome de o "Painel". A cruz foi destruída por altura da implantação da República, sendo depois renovada em 1938 por iniciativa da J.A.C. No tricentenário de Nossa Senhora, Rainha de Portugal, em 1940, foi-lhe colocado um azulejo comemorativo.
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ALBERGARIA DO ALQUEIDÃO
No lugar do Alqueidão existiu, até aos finais do século passado, uma albergaria destinada a alojar os "passantes" pobres.
Não se sabe quando nem por quem foi instituída. Tinha rendimentos próprios, o que levou a Misericórdia de Torres Novas, em 1859, a procurar integrar no seu património esta e outras albergarias do concelho, não só para fazer face as suas despesas, como também por já não se justificar a existência de tais instituições.
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CARLOS REIS E PEDRÓGÃO
Ligado a Pedrógão por laços familiares e de amizade, Carlos Reis passou alguns períodos da sua vida, pintando e descansando neste ambiente tranquilo a saudável.
Uma das suas telas, vendida para os Estados Unidos, retrata uma ceifeira para a qual serviu de modelo uma rapariga da terra.
Parentes seus aqui residentes conservam ainda com grande estima uma tela do pintor, que representa uma camponesa. Está inacabada e nunca chegou a ser assinada, embora os discípulos de Carlos Reis não ponham em dúvida a sua autenticidade.
Existem também quadros da juventude de seu filho João Reis.
CURIOSIDADES
A vida da população de Pedrógão é ainda profundamente condicionada pela presença dominante da Serra d'Aire.
É uma serra elevada (678 m. no "Sinal"), agreste, desabrigada, sem vales pronunciados. Embora essencialmente de calcário comum, também nela existem pedra lioz e mármore, que, depois de polidos, são de belíssimo efeito.
A não ser na "chã", onde abundam as oliveiras, pinheiros a eucaliptos, a Serra é fracamente arborizada, encontrando-se quase só o folhado e o medronheiro. Os matos, porém, são muitos e variados: rosmaninho, alecrim, urze, sargaço ou sargacinho, tojo, carrasqueira, aroeira, murta e orégãos.
As espécies animais que nela vivem estão hoje muito dizimadas. O coelho e a perdiz são os mais comuns, existindo ainda milhafres e corvos, ginetos, raposas e muitas variedades de pássaros e nos últimos anos também abunda javali. e recentemente foram avistados alguns esquilos.
Antigamente havia lobos - os últimos foram mortos no princípio do século passado - e águias, que deram o nome a um local da Serra ( "Cabeça da Águia" ) perto do Alqueidão.
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OS NOMES
Um costume muito arraigado na gente da terra é a atribuição de alcunhas - às vezes mais do que uma por pessoa - que funcionam como identificação quase exclusiva dos próprios.
A Serra, com os seus vales, covas e chãs, tomou nomes característicos de fácil explicação: Vale Garcia, Vale Fojo e Vale das Quebradas; Covão do Milho, Covão do Coelho, Covas do Passadoiro, Cova do Azinheirão e Cova da Moura; Chão da Serra e Goucha Larga, etc..
Tal como na Serra, também as "fazendas" são identificadas por nomes, cuja origem muitas vezes se desconhece. A título de exemplo indicamos alguns deles: Vale Toirinho, Vale Palhão, Vale Mogo, Mourisca, Lameira da Mós, Dordia, Cerco, Marrinha,e Bafo do Mar.
Quanto à rede toponímica da povoação e sua origem, ela é já hoje do conhecimento geral, tendo sido elaborada em meados dos anos setenta.